domingo, 21 de abril de 2013

Carta ao meu grande amigo

Oi, tudo bem?

To meio sumido né? Me desculpa, principalmente porque sei que nessas horas muitas pessoas te abandonam e muitas aproveitam para falar mal de você! Sei que não está nos melhores dias e juro que tento entender a situação que você está passando... Não é fácil ter que lidar com a pressão de tanta gente que acredita e aposta em você. Mas fazer o que né?

Quando fomos apresentados há um tempo, graças ao meu pai, lembro que o que mais me chamou a atenção em você, foi exatamente a sua postura de não abaixar a cabeça. Tal qual seu bicho de estimação, sua principal qualidade é assumir sua personalidade e enfrentar os desafios que aparecem.

E tem mais. Muitos gostam de você porque todo mundo gosta! Eu não sou deles. Sei lá, gosto de você porque temos algo em comum, talvez a força para lutar e recuperar das quedas sofridas. Só sei que tenho orgulho de você e, como muitos sábios, nunca vou deixar de querer ter noticias suas.

Mesmo sabendo que alguns conhecidos não gostam de você e te desprezam, eu continuo do seu lado. Prefiro assim. Alguns falam do seu passado, mas não ligo. O que me importa é ter a certeza de que estaremos lutando juntos para sempre.

Quantas vezes eu estava mal, cheio de problemas e fui te encontrar para me alegrar. Sua casa sempre me fez bem. Mesmo nos momentos de dificuldade, em que eu achei que estava no fundo do poço, você me alegrou. E não foram poucas vezes. Sei que quando estava na pior, quando muitos tripudiaram sobre sua situação, você me alegrou. Ainda sim, trouxe de novo a alegria na minha vida.

Por inúmeras e inesperadas vezes, na sua casa cheia, tive a certeza de que pelo simples fato de você e eu estarmos juntos, nos tornávamos indestrutíveis e que nada abalaria aquele momento.
Até mesmos nos momentos de angústia. E não foram poucos. Afinal, tivemos os momentos de briga, em que eu estava bravo contigo e fui embora para casa puto. Mas logo depois, estávamos bem de novo. Afinal, não nascemos na mesma barriga, mas temos o mesmo sangue.

Talvez seja por isso que minha família te adora e todos temos boas lembranças de você. Principalmente quando te via feliz. Nunca esquecerei dos nossos momentos juntos. Sofri com você, comemorei com você! E tenho certeza de que isso continuará para sempre.

Peço desculpas por não ter ido te ver hoje. Sei que você está temporariamente fora de casa, mas não pude te visitar, mas meu pai esteve aí e disse que te viu. Te vi pela televisão e torço muito para não te ver apenas nos fim de semana. Mas mesmo assim, grito seu nome e continuo ao seu lado.

Bom, tenho que ir agora. Mas te escrevi esta carta para que você saiba que agora, quando muitos te xingam de novo, eu estou do seu lado como sempre estive. E sempre vou estar.

Te mando uma foto para mostrar uma homenagem que fiz para você!

Seja forte e continue de cabeça erguida, como sempre fez.

E seguimos juntos Galo. Para sempre

Abs,

Guilherme Cunha




quinta-feira, 18 de abril de 2013

Lição


- Filho, acorda. Tá na hora de ir pra escola.

- Não quero ir pra escola, pai.

- Não tem essa de querer não. Levanta aí.

- Mas pai...

- Mas pai nada. Pode levantar.

- Eu vou ser zoado na escola hoje pai, quero ir não.

- Porque?

- Porque o Galo perdeu ontem.

- E você vai ser zoado por isso?

- É. Toda vez que o Galo perde é assim. O pessoal da minha sala que não é atleticano fica me zoando o dia inteiro.

- Filho, a vida é assim mesmo. Um dia você zoa seus amigos, no outro dia é a vez dele.

- Ah pai, mas o Galo tem o melhor time. E eu fiquei dizendo isso o tempo todo na sala. Hoje eles vão me zoar.

- Eu sei. Eu também disse isso.

- Ih pai, então vão te zoar demais no serviço hoje.

- Vão. Mas é normal. E outra, não estamos errados.

- Mas não aceito o Galo ter perdido, pai. Parece que o time nem jogou ontem.

- Tem dias que as coisas não dão certo. O que aconteceu ontem foi que um time entrou com mais vontade do que o outro, e infelizmente não foi nosso Galo.

- Mesmo assim vão me zoar...

- Filho, aprende uma coisa. Vivemos num mundo em que estamos perdendo a tolerância. Pessoas estão brigando por qualquer motivo. Está tendo até uma ameaça de guerra. Temos que saber respeitar que existem pessoas que tem gostos diferentes do nosso. Então é normal o torcedor do outro time te zoar hoje. É só aceitar como brincadeira e deixar pra zoar ele em outro dia.

- Nossa pai, mas é difícil viu. Tem um menino lá que é chato demais.

- Filho, nosso time é o melhor, certo? Classificamos em primeiro, temos jogadores de seleção no nosso time e jogamos bem em quase todos os jogos esse ano. Hoje esse amiguinho seu vai te zuar porque ele só tem hoje pra isso. Ele tá guardando dias assim há tempos. Aposto que mesmo torcendo pra outro time, ele só fala do Galo com você.

- É mesmo.

- Eles tem é inveja, filho. E não se esqueça que vamos enfrentá-los mais duas vezes, sendo uma delas aqui. E você sabe o que acontece com quem joga no nosso campo né? Caiu no Horto...

- Tá morto.

- Pois é.

- Você vai trabalhar hoje pai?

- Claro. E olha, sabe aquela caneca que seu tio me deu de presente?

- Aquela preta do Galo?

- Essa mesmo. Vou levar ela pro serviço e só vou tomar café nela hoje. Não tenho motivo pra ter vergonha. Perdemos ontem, mas vamos ganhar as próximas, tenho certeza.

- Tá certo pai.

- Agora vai tomar banho.

- Tá bom.

- Pai.

- Oi.

- Posso ir com a camisa do Galo por debaixo do uniforme?

- Pode sim filho, deve.


segunda-feira, 8 de abril de 2013

Domingo


Não, não era um domingo comum. Não pra mim.

Quer dizer, até seria. Ir pro estádio, comer tropeiro, beber cerveja com amigos, assistir o jogo do Galo, resenha depois. Meus domingos são assim e seria mais um domingo normal.

Mas ontem, foi diferente, pois tive a presença de outro companheiro no estádio.

Na verdade, foi um velho companheiro que há muito não ia comigo lá: Meu pai.

Não me lembro qual foi a última vez que fomos, somente eu e ele, ao estádio. Fomos juntos várias vezes, mas com meu irmão, meu cunhado, meu tio, meu primo e etc. Desta vez, não. 

Desta vez foi somente eu e ele.

Somente eu e a pessoa que me ensinou a amar o Galo.

Somente eu e a pessoa que me ensinou a gostar de estádio.

Somente eu e a pessoa que me ensinou a apoiar o time o tempo todo e não desistir nunca.

E ontem, foi assim.

Eu e ele. Juntos, indo pro estádio. Juntos, comendo tropeiro. E juntos, bebendo cerveja e contando casos.

Pai e filho, sem frescura.

Cantamos, apoiamos, comemoramos.

Xingamos o bandeirinha juntos. Xingamos o juiz juntos. E vimos o Galo ganhar juntos.

O Galo ganhou. Mas nós ganhamos mais.

Ganhamos mais uma lembrança de momentos juntos.

Ganhamos mais uma oportunidade de dividir lembranças.

E ganhamos mais um abraço, um do outro.

Com certeza, quando ele partir um dia, dias como o de ontem ficarão na memória, pois são momentos únicos que passamos juntos em plena cumplicidade.

Para alguns, foi mais um domingo.

Para mim, um domingo especial.

Eu e ele. Juntos até nas palmas. 

sexta-feira, 5 de abril de 2013

Francisco e Edu


Eles poderiam estar juntos, mas não estavam.

Seu Francisco estava em casa, com rádio ligado, camisa no corpo, cerveja no copo e carne na churrasqueira.

Edu, o filho, estava no estádio, com rádio no ouvido, camisa no corpo, cerveja no copo e churrasquinho na mão.

Seu Francisco aguardou por muito tempo que o time melhorasse. Já sofreu muito na vida com o Galo, noites mal dormidas de tristezas por derrotas, empates e a falta daquele golzinho que mudaria tudo. Hoje, ele agradece aos céus por ter saído do fundo do poço e voltado aos momentos de glória.

Edu sempre acreditou que o time era muito bom. Sofreu algumas vezes com o Galo, mas hoje tem noites mal dormidas de tanto comemorar as vitórias nos bares da cidade e exalta o time que faz o sangue alvinegro pulsar. Sempre pede aos céus que o time dê aquilo que a Massa tanto espera e acredita que coisas boas virão.

Seu Francisco cansou de ir ao Mineirão e ao Independência antigo. Viu grandes vitórias, viveu momentos de alegria, mas hoje, gosta do conforto do lar, da cerveja gelada em casa, sem confusão.

Edu não se cansa de ir ao Independência. Adorava o Mineirão, mas já adotou o estádio do Horto como casa. Viu grandes vitórias, grandes momentos de alegria e não dispensa o convívio com irmãos de arquibancada e da cerveja no Bar da Tia morena.

Seu Francisco é daqueles que não marca nada se tem jogo. Às vezes a mulher pede para ir na venda comprar algo, mas se tem jogo, ela que espere. Se o jogo é tarde, vai comprar o que precisa no outro dia. Se é mais cedo, vai logo após, mas o jogo é imperdível.

Edu é daqueles que não marca nada se tem jogo. Às vezes a namorada quer fazer algo, mas se tem jogo, ela que espere. Se o jogo é tarde, ele encontra com ela só no outro dia. Se é mais cedo, vai logo após, mas o jogo é imperdível.

Seu Francisco adorava ir aos jogos com Edu.

Edu adorava ir aos jogos com Seu Francisco.

Porém, não estavam. Podiam ir juntos, mas não foram.

Seu Francisco, em cada gol, lembrava do Edu e da alegria que ele deveria estar no estádio e sentiu até vontade de estar lá, junto com o filho.

Edu, a cada gol, lembrava do Seu Francisco e da alegria que ele deveria sentir em casa e deu vontade de estar lá, com o pai.

A cada jogada do Ronaldinho, a cada pique do Tardelli, a cada carrinho do Pierre e a cada defesa do Victor.

Ambos cantaram o hino.

Ambos se emocionaram na torcida.

Ambos se revoltaram com as atitudes do adversário.

E ambos comemoraram a vitória. Seu Franscisco em casa. E Edu no estádio.

Quando Edu chegou em casa, Seu Francisco estava acordado.

E então, se abraçaram.

Eles poderiam ter assistido o jogo juntos, mas não viram.

Mas não precisavam.

Não precisam dividir o mesmo espaço físico.

Não precisam assistirem o jogo juntos.

Eles sabem o que sentem, mesmo separados. Sabem exatamente a reação.

Já estão juntos pelo amor do time que tá no sangue. Que tá na alma.

E isso já basta.

Basta para viverem.

Basta para acreditarem que algo de bom vai acontecer.

Basta para serem atleticanos.