quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

Missão quase impossível



Ele estava perdido. Ou melhor, achava que devia estar perdido.

Afinal, a informação que recebeu era de que era embaixo daquela escada vermelha. Mas com aquela iluminação parcial da Lua, não tinha certeza se realmente aquela escada era vermelha.


Olhou para os lados e estava com a sensação de que seria pego em flagrante. E sentiu aquele frio na barriga.


Como contaria para sua família? E se o pessoal do serviço descobrisse?


- Ei, psiu!

- Oi.

- É você que tá querendo a parada?

- Depende. Que parada?

- Nada, esquece.

- Peraí, volta aqui. Essa aqui é uma escada vermelha né?

- É o que parece.

- Você é o cara que vende o m...

- Sim, sou eu.

- Nossa. Que susto que você me deu... Ainda mais saindo das sombras assim...

- Cara, tem que ser rápido. Você tá com o dinheiro aí?

- Tô. Tá aqui...

- Ei, não vira pra cá não. Vai chamar a atenção.

- Foi mal.

- Seguinte. Ao lado daquela lata de lixo ali, tem um maço de cigarros.

- Onde que..

- Já disse pra não olhar pra cá, porra! A lata tá ali no seu lado direito.

- Ah, agora eu vi.

- Então. Ande devagar até lá. Aí você pega o maço e abre como se procurasse cigarros dentro. Discretamente, você coloca o dinheiro lá. depois coloca o maço no chão de novo. Vou ficar olhando. Se você seguir tudo direitinho, você volta aqui e enfia a mão nesse buraco que está ao seu lado esquerdo...

- Tudo bem... Nossa, obrigado mesmo. Você sabe como está difícil arrumar isso hoje em dia, não sabe?

- Sei, por isso eu vendo.

- Eu sei. Desculpa, mas é que to nervoso. Minha família nem imagina. Minha mulher me mataria, fala que faz muito mal a saúde.

- Isso é coisa da mídia. E interesse do governo.

- Eu sei.

- Então vai lá e coloca o dinheiro. Passar bem.

- Obrigado, você também. Posso te encontrar aqui na próxima vez que eu vier?

...

- Hein, posso?


E então não obteve resposta. Viu que ele já tinha sumido. Agora era com ele.

Tremendo de tão nervoso que estava, seguiu o determinado. Achou o maço de cigarros e colocou o dinheiro, deixando no chão novamente. Depois voltou ao lugar e enfiou a mão no buraco a sua esquerda, mas não encontrou nada.

Tinha sido enganado, não era possível.

Pra piorar, um cara chegou chutando o maço com o dinheiro.

Realmente tinha sido enganado.

Já estava indo embora quando escutou um barulho de lata caindo. Será que era um sinal?

Enfiou a mão no buraco, mas nem precisava saber o que estava lá. Já podia sentir o calor...

Estava tão nervoso que até suava... e enfim, estava lá.

Ele então retirou o volume que estava embrulhado em um saco plástico e abriu. Olhou para os lados para agradecer, mas não viu ninguém.

Das sombras, o vendedor viu o sorriso no rosto do seu comprador. A alegria estava estampada. E ficou admirando a felicidade dele até ele sumir no meio das arquibancadas. Porém, não podia ficar muito tempo ali, pois tinha mais “tropeirões” pra fazer.

Tropeiros assim.

Para entender o motivo do tropeiro antigo ser vendido na sombras, veja o novo aqui.

***Texto originalmente publicado no blog Feriado Prolongado em 07/02/2013