sexta-feira, 31 de maio de 2013

Só o Galo

Quando o juiz marcou o pênalti pro Tijuana, entre o apito e a batida, um filme passou pela minha cabeça.

Muitas pessoas olharam pro chão, outras fecharam os olhos. Eu olhei pro céu.

Olhei pro céu e me perguntei porque aquilo estava acontecendo com a gente. E o pior, naquele momento.

E o roteiro desse filme era nossa história.

Quantas vezes nós deixamos de classificar ou de ganhar um título por um detalhe?

Quantas vezes vimos títulos escapar entre os dedos por razões que ninguém consegue explicar?

E não era só isso. Era a campanha do 1º turno, a vitória maiúscula contra o São Paulo. As injustiças do Campeonato Brasileiro do ano passado.

Não era justo. Não daquela forma. Não aos 48 minutos do segundo tempo.

Lembrei que o Victor não havia pegado nenhum pênalti na sua carreira no Galo e que o nosso goleiro sempre caia pro lado direito. Não saia da minha cabeça as várias vezes em que ouvia que o Victor não era goleiro de “pegar pênalti”.

Voltei os olhos pro campo e vi o atacante mexicano correndo pra bater o pênalti. O silêncio que reinava no estádio era ensurdecedor.

Quando o Victor defendeu, não tive reação a não ser cair de joelhos e chorar.

Pela primeira vez na minha vida eu não consegui falar ou gritar. Minha única reação era chorar.

De joelhos, chorava de soluçar e as lembranças que guardo desse momento são apenas imagens turvas, distorcidas pelas lágrimas que resolveram sair todas de uma vez.

Minhas pernas ficaram bambas, minhas mãos tremiam. Estava arrepiado da unha do dedão ao último fio de cabelo. Era a certeza de que o meu corpo inteiro vibrava e queria participar daquele momento e parece que eu saí do estádio, pois não ouvia nada, não via nada e só chorava.

E então, o juiz apitou o fim do jogo e eu “voltei pro estádio”, reparando em minha volta. Todos, sem exceção, choravam.

E a primeira imagem nítida que vi foi a frase "Aqui é Galo" no cachecol de um amigo próximo.

Realmente. Nada era mais Galo do que aquele momento. Nada representava mais o que significava torcer pro Galo naquele exato momento.


Só o Galo faz o ateu agradecer a Deus por tudo que viveu. Só o Galo faz os idosos pularem como crianças, quase dando cambalhotas. Só o Galo faz as crianças chorarem de tanta  emoção ao ponto de ficar enrrugadas como os idosos. Só o Galo faz o rico abraçar o pobre. 

Vi idosos, crianças, jovens, adultos, mulheres e homens chorando, olhando ao redor, olhando pro céu, olhando para si mesmos e não acreditando no presente que Deus havia dado a todos nós.

Agora, enquanto escrevo este texto, é um novo filme que passa pela minha cabeça.


E Graças a Deus e ao Victor o final é feliz.

Foto do Daniel Teobaldo (soulgalo.com.br) que retrata bem. Eu e os amigos Anne Menezes e Marconi



PS: Depois que publiquei o texto, a Anne Menezes, essa mesmo da foto acima e especialista no que se refere ao Victor me lembrou que ele já havia pegado um penalti jogando pelo Galo. No jogo Náutico x Galo, no Brasileiro do ano passado, o Victor já havia defendido um penâlti. Reveja aqui 

4 comentários:

  1. emocionante... acho que todos os atleticanos passaram por isso ontem. o silencio ensurdecedor, os 5 minutos em um universo paralelo, o olhar pro céu, as lágrimas, a promessa... e com o apito final o grito de desabafo: AQUI É GALO, PORRA !


    ResponderExcluir
  2. A 4ª frase debaixo pra cima é ÍMPAR!!! Parabéns pelo texto Gui!! Mandou, mais uma vez, MUITO BEM!!!
    GAAAAAAAAAAALOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO!!!!!
    p.s. Não disse que tinha que assistir o jogo do seu lado pra dar certo?! HUN!!

    ResponderExcluir
  3. Lindo texto, todos que o lerem vão se emocionar, meus olhos enxeram de água. Pensamos a mesma coisa, "(...) me perguntei porque aquilo estava acontecendo com a gente". Você está de parabéns, traduziu tudo que qualquer atleticano sentiu ontem! AMEI o texto.

    ResponderExcluir
  4. Excelente texto, so quem e atleticano sentirá a mesma emoção de ontem ao ler este texto...parabéns.
    "Galoticano do berço ao caixão"

    ResponderExcluir