segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Carta para Fernandinho

Fernandinho,

Acho que você já deve ter percebido que mineiro gosta de contar causos né? Pois é, eu vou te contar um que aconteceu aqui em Minas, entre João e Maria, esse ano mesmo, antes de você chegar. 

Há quem pense que certos problemas ocorrem por conta da idade, mas não é, mesmo João sendo 13 anos mais velho que Maria. O problema é que Maria é vaidosa demais.

João é mais velho, mais experiente e já passou por muita coisa na sua vida.  Hoje, com muito custo, consegue algum sucesso na sua vida.

Já Maria (mais nova) é mimada, birrenta e, como ela mesmo diz, cheia de vaidade. Já teve momentos bons na vida, mas embarangou, e como uma estrela de novela decadente, não recebe convite para aparecer na mídia há 10 anos.

E tudo começou quando João e Maria dividiam o mesmo condomínio.

A família de João é muito grande, falam alto e bebem muito. Parecem até uma família turca de tão alto que falam. Mas são unidos e isso ninguém pode falar. João já passou dificuldades financeiras e sociais, mas a família não o abandonou. É até bonito de ser ver.

Já a família de Maria é meio estranha. Eles até são muitos também, mas são mais frios. Quando Maria estava bem de vida, a casa vivia cheia, mas foi só começar a empobrecer que os parentes sumiram. De vez em quando aparecem, mas parece até que é por interesse porque trazem balão, apito e etc, mas vão embora e ela fica sozinha de novo.

Porém, por causa de uma obra do governo, o condomínio teve que ser reformado e ambos foram morar em Sete Lagoas por um tempo, mas dois anos depois vieram morar em Belo Horizonte de novo. (A família do João ia visitá-lo como sempre, a de Maria não).

Quando voltaram pra BH, a família Coelho, que os conhece há muito tempo, resolveu emprestar sua recém reformada casa. A família do João visitava sempre e, coincidentemente, ele prosperou.

Já a família de Maria não se adequou bem a casa dos Coelho. Além de ficar cada vez mais decadente, Maria via que João prosperava, e isso incomodava. A maré tava tão ruim que a família da Maria não soube se comportar e foi obrigada a parar de frequentar o condomínio dos Coelho devido a atirar objetos pela janela, norma vedada pelo Estatuto de lá, levando o síndico a proibir a presença deles.

Ocorre que o condomínio ficou tão satisfeito com a família de João que resolveu deixá-lo morar lá, mesmo sobre os protestos da família Coelho.

A sorte da Maria é que as obras do governo ficaram prontas e ela pode voltar pro condomínio antigo. Só que Maria não percebeu que as reformas deixaram o custo de lá muito alto. Sem poder contar com a família, Maria não teve outra escolha e está vendendo o almoço para comprar a janta.

João então resolveu convidar a Maria para ir visitá-lo na casa em que morava, porém, a família dela não se comportou novamente. Jogaram xixi, bitucas de cigarro acesa, grãos de milho, chicletes e etc pela janela, chegando ao luxo de jogarem água lá de cima (Já faltou água na casa da Maria), porém o síndico não ficou sabendo – ou fez vistas grossas, não se sabe -  e nada aconteceu com a família de Maria.

Isso aconteceu esse ano mesmo, em maio e eu até já contei pra outras pessoas aqui mesmo.

Pois bem. Num é que a família da Maria aprontou de novo?

Veja só o que eles fizeram (vídeo da WebRadioGalo) : 


Lamentável né?

Mas eu te escrevo, Fernandinho, é pra te agradecer. Porque graças aquele Galaço que você fez, a família de João, donos da casa, podiam ficar em paz.

E olha que eu vi gente que torceu o pé, tomou cotovelada na cara na hora do gol e gente com a mão cortada de tanto tocar não reclamarem, em momento algum, do que passou.

Mas o que mais me impressionou, Fernandinho, foi o milagre que você e o resto do time fizeram. Você sabia que um cara saiu cantando e pulando na saída do estádio com as muletas pra cima e parecia até não precisar dela mais?

Não consegui filmar ele direito, pois estava bem a frente, mas nesse vídeo aqui dá pra ver ele no finalzinho da filmagem, do lado esquerdo.

Pois é, Fernandinho. Foi graças a vitória de vocês ontem que a família da Maria murchou. Foi graças a vitória de vocês que o aleijado dispensou as muletas, que quem se machucou não reclamou das dores e que pudemos festejar a noite inteira.

Antes de me despedir, gostaria só que você e o resto do time pensassem um pouco mais na frente. Sim, pois se com uma vitória sobre o freguês, mesmo com nosso time quase reserva, já fizeram pessoas dispensarem muletas, imagine o que acontecerá se ganharmos o mundial?

Já imagino os cegos enxergando, os surdos ouvindo as nossas músicas e os mudos gritando o grito de Galo entalado na garganta...

Focalizem nisso. É só isso que eu quero. Que pensem no poder que vocês tem.

Obrigado, Fernandinho. Obrigado mesmo.

Um grande abraço.