Para fulano não importa em qual campeonato o Galo está
jogando.
Fulano sempre faz a mesma coisa: Marca um encontro com
outros atleticanos e vão ver o jogo juntos. Seja família, cônjuge, filho ou
amigos, não interessa. Sempre vê os jogos juntos com alguém.
E é supersticioso. Usa aquela camisa da sorte. Aquela camisa
que viu grandes vitórias. Aquela camisa que já esteve no estádio não se sabe
quantas vezes e que já viajou para todos os lugares possíveis.
Se possível, Fulano assiste o jogo no mesmo lugar. Seja na
mesma cadeira no estádio, na mesma poltrona ou na mesma mesa de um bar. Quando
não é possível, o novo lugar vira o lugar da sorte, o sinal divino de que tinha
que mudar de lugar.
É daqueles que no réveillon, fala pros amigos que não quer
nada, só que o Galo seja campeão do Mineiro, da Copa do Brasil, do Brasileiro,
da Libertadores e do Mundial. Que no aniversário, gosta mais daquele presente
com cores alvinegras, que pode até não ter função certa, mas que será guardado
como se fosse a chave de uma ferrrari.
O Fulano é daqueles que sempre é visto com cores alvinegras.
Que prefere beber uma saideira, do que ter que guardar notas de 2 reais azul no
bolso. Que compra caneta preta, que acha melhor quando o céu tá nublado e
quando saca duas notas de 50 ao invés de uma de 100 reais.
É aquele que prefere deixar de um comprar um celular, de
trocar o pneu do carro ou que leva marmita todos os dias, porque o dinheiro pra
ir pro estádio é sagrado.
Aliás, para ele não tem dinheiro gasto com o time. Tudo que
gasta com o time, considera um dízimo, pago como forma de agradecimento a Deus
por aquele clube existir e proporcionar o aquecimento no peito quando o hino é
ouvido.
Ou cantado. Porque Fulano canta o hino para embalar o filho,
o afilhado, o irmão mais novo ou o animal de estimação. Nenhuma música acalma
mais do que aqueles que exaltam o amor por uma nação.
E Fulano faz questão de cantá-lo sempre. Seja quando um
objeto cai/alguém solta um foguete/alguém buzina ou quando dá vontade de cantar
mesmo. No casamento, na formatura, no
batizado ou até em um enterro de outro atleticano.
Não importa, ele sempre está com time.
E se ele viveu momentos de não acreditar que estava no fundo
do poço, hoje comemora porque está nas nuvens com a fase atual.
E olha que ele sofreu.
Fulano nunca se esquece desses momentos de sofrimento, que
foram difíceis.
Fulano freqüentava o Mineirão. Viveu alegrias e tristezas,
vitórias e derrotas, chorou e sorriu. Sempre com a mesma intensidade.
Foi pra lá, torcendo para que o pior não acontecesse, e
quando aconteceu, continuou indo para o estádio, rezando para que o melhor
viesse para seus irmãos de torcida. E se o pior aconteceu, porque o melhor não
aconteceria?
E quando o melhor veio, seu amor, que parecia ser infinito,
dobrou. E não parou de crescer.
Mesmo quando ia a Sete Lagoas em todos os jogos. Em alguns
deles, ficou completamente molhado pelas chuvas que caía e em outras, voltava
pra casa vermelho.
E não é vermelho de vergonha não, porque vergonha nunca
teve. Ficava vermelho de por colocar a cara de frente ao Sol para proteger os
jogadores. Ficava vermelho de raiva de tanto xingar a arbitragem que insistia
em prejudicar o time. E vermelho pelo sangue que pulsava em seu corpo e não
permitia parar de cantar.
E Fulano sabia que aquilo ali iria passar também.
Voltando pra família alvinegra da capital, não se entregou.
Continuou comparecendo.
Os adversários tripudiavam, mas não ligava.
Seus irmãos de arquibancada continuaram a apoiar, como
sempre fizeram.
No Horto, continuou gritando e dando sangue pelo time. E com
tanto sangue alvinegro, o estádio absorveu a alma atleticana e começou a pulsar
com o time, se tornando imbatível.
Ele, que tantas vezes ouviu gozações, provocações e nunca
baixou a crista, hoje é mais um do que distribui esporadas no adversário.
Ele que tanto sofreu com ironias da mídia, que viu suas lágrimas
descerem do rosto pela humilhação que tantos quiseram impor ao seu time, hoje
sente essas mesmas lágrimas saltarem dos seus olhos para poder assistir o time
jogar.
O melhor time do Brasil, segundo a mesma mídia.
Esse orgulho que sente hoje nunca deixou de estar ali. Só
ficou adormecido, esperando o momento de renascer das cinzas, como sempre fez.
Mas Fulano não se importa, ou melhor, nunca se importou,
pois o que sempre precisou foi a raça em campo, o sangue alvinegro correndo nas
veias, e isso ele sempre encontrou nos seus irmãos de arquibancada.
Hoje, ele estará comemorando o aniversário do time, junto
com esses irmãos.
Para vê-lo, é só ir onde a massa está.
Para conversar com ele, basta gritar GALO bem alto e ele vai
ter responder, afinal, todos o conhecem. Ou um deles.
Porque existem milhões de Fulanos, que gritam, apoiam, que
sofreram ou que amaram na mesma intensidade.
Somos milhões de Fulanos que não precisam ter nome para se
apresentarem, basta carregar as cores e o amor pelo clube.
Somos milhões de pessoas que estarão juntos não
parabenizando, mas agradecendo o fato dessa nação existir.
Somos do Clube Atlético Mineiro.