segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Só melhora

Há exatos quatro meses, oito milhões de pessoas tiveram a fé testada quando o árbitro Patrício Polic marcou pênalti aos 48 minutos do segundo tempo para o Tijuana. Muitas pessoas secaram o goleiro, uma nação alvinegra secou o batedor Reascos e quando o goleiro Victor fez a defesa com os pés, ninguém consegue secar as lágrimas que sempre escorrem dos olhos do atleticano que não cansa de rever o lance.

E então nós acreditamos que era possível.

Há exatos três meses, um bom número dos oito milhões de pessoas cornetavam o presidente alvinegro e a diretoria atleticana que não contratou ninguém para o jogo contra o Newell’s Old Boys, quando jogaríamos sem a nossa zaga e um dos volantes do time titular. Alguma parcela da torcida alvinegra comemorava o título brasileiro na Copa das Confederações, porém todos aguardavam a próxima fase da competição que era o sonho de todo atleticano.

E então só nos restava acreditar.

Há exatos dois meses, oito milhões de pessoas no Brasil ainda não conseguiam dormir direito pela conquista da sonhada, esperada e sofrida Libertadores. Enfim, ganhamos o título que estava engasgado na garganta e a América inteira era alvinegra. Casamentos foram salvos, filhos foram feitos, empregos foram gerados e cruzeirenses eram mais difíceis de encontrar do que Coca-Cola no deserto.

E isto porque nós acreditamos.

 Há exato um mês, sofríamos no Campeonato Brasileiro. Time e torcida de ressaca pelo título não se preocupavam muito com a competição. Perdemos jogos para times que perderiam até pro América, mas nada parecia importar. Algumas pessoas, com Alzheimer talvez, passaram a criticar o time e perseguir alguns jogadores. Outros jogadores, também com probabilidade de perda de memória, pareciam que esqueceram como se jogava futebol e o stress tomava conta de muita gente. Quem parecia não se importar eram os donos de agências de viagem que começaram a vender os pacotes para a invasão em Marrocos.

Muita gente acreditava, mas muita gente parecia deixar de acreditar.

Hoje, melhoramos no Campeonato Brasileiro dedicado aos hipertensos que não precisam se preocupar com a quantidade de sal que o torneio carrega. O time conseguiu boas vitórias e a torcida se revelou mais exigente do que se imaginava. O título fez essas oito milhões de pessoas terem a certeza de que poderíamos disputar qualquer competição, mesmo com 50 pontos atrás do primeiro colocado e um oitavo lugar é motivo pra deixar todo mundo indignado, pois todos conhecem o potencial do time. Mas aí veio a contusão do Ronaldinho e parece que um tufão passa pela cabeça de cada torcedor atleticano que buscou o terço na gaveta e voltou a acender velas para a recuperação do mito.

Mas não podemos deixar de acreditar.

Não sei o que acontecerá daqui um mês ou dois. Quem dirá três. O atleticano consegue xingar o time, entre os seus pares, pois sabe que podemos mais, mas ri da situação atual do mesmo time para os torcedores do time azul que vai bem no Brasileirão-sem-sal para não deixar a zuera terminar.

E agora a situação, por incrível que pareça, entra no estilo que a torcida do Galo está acostumada: quanto mais sofrido, melhor. Só esse ano, aprendemos árabe para acompanhar a negociação do Tardelli, falamos castelhano para nos ambientar nos países sulamericanos que visitamos, torcemos contra o vento e a favor da trave no dia 25/07 e agora estudamos a geo-política marroquina e seus usos e costumes para dezembro, mas teremos que incrementar a Medicina em nosso tempo disponível para acompanhar o tratamento do mito Ronaldinho.

Com isso, tudo só melhora. Quanto mais desafios, quanto mais desacreditam no nosso elenco, o brio deles só aumentam e as coisas só melhoram. Afinal, depois desse tempo todo e de tudo isso que passamos e de tudo que aprendemos, vamos deixar de acreditar?

sexta-feira, 13 de setembro de 2013

Voltamos a comemorar duas vezes

A maior alegria do atleticano no ano de 2013 foi, sem dúvida, ter conquistado a libertadores. Mas como foi essa conquista? Regada de emoções, sofrimentos, shows, alegrias, e é claro, gols! 

Gol, momento maior no futebol.

Não existe nada que se compare a alegria de se comemorar um gol bonito, um gol importante, um gol de titulo, existe?

Pro atleticano existe.

Pro atleticano, o gol é detalhe. Sabe o que é realmente bom de se comemorar? A comemoração!

Gols nós nos acostumamos. Reinaldo, Guilherme, Marques, Ronaldinho Gaucho, Tardelli, Jo. Essa turma toda já fez gols memoráveis, de placa, mas que um dia podem ser esquecidos e lembrados apenas por imagens antigas. 

Mas uma coisa a torcida do galo não vai esquecer: A comemoração Jô – R10 é imortal.

A comemoração eternizada durante a libertadores estava nos fazendo falta. O time vinha jogando mal, Jô vinha sem marcar.

No começo do ano dizíamos que a única duvida do atleticano ao ir pro horto era saber de quanto o atlético ganharia. Ou saber quantas vezes Jô e Ronaldinho fariam a comemoração.

O futebol deu uma caída, a pressão aumentou. A pressão chegou a ser tanta, que talvez no gol mais importante da carreira, numa final de libertadores, Jô não comemorou da maneira tradicional. (é claro que precisávamos de pressa naquele momento)

E depois de tanto tempo, voltamos a comemorar duas vezes. Na partida de ontem, contra o coxa foram seis vezes.

A equipe mostrou muita vontade, e principalmente que está comprometida com a vitória novamente. Não foi uma partida tecnicamente perfeita. Com o jogo nas mãos, o segundo tempo foi só para administrar.
  
Foto: Daniel Teobaldo (@daniteo)
www.soulgalo.com.br
Mas o mais importante foi a vontade e a alegria de vencer que voltou.

A alegria do Jô e Ronaldinho de fazer a comemoração.

A alegria do torcedor imitando após os gols.

É hora de acreditarmos novamente. É hora de ver o futebol com alegria novamente.

Agora é a hora do torcedor voltar ao campo só pra se divertir com a comemoração que já foi imitada por nossos futuros fregueses no mundial.

Por que para o atleticano não existe nada mais divertido do que comemorar duas vezes.



Lucas Colares. Atleticano e blogueiro. (http://instanteinusitado.wordpress.com/). Siga-o no twitter: @lucas_galo1908.

quinta-feira, 12 de setembro de 2013

E se eu fosse... cruzeirense?


Dia desses passou pela minha cabeça como seria a vida se torcesse para o Cruzeiro, time do Barro Preto, como gosto de chamar.

O time azul é líder do campeonato Brasileiro, tem uma média de gols por partida elogiada, além das suas duas Libertadores e quatro Copas do Brasil como a gente sabe de cor porque este é o único repertório da torcida quando se faz de cega aos feitos do rival.

Concluí que se eu fosse cruzeirense, seria infeliz. A vida não teria emoções. Muito menos nesta Libertadores em que o Galo foi CAMpeão. E é dela que eu quero falar.

- Em todas as conquistas do time do Barro Preto, sendo a última em 2003, não tínhamos rede social. Comemorar onde? Brigar com quem? Deletar quais amigos? Deixar de seguir quantos? Dar ‘’block’’ em quem? Essas coisas não existiam naquela época.

- Se eu fosse cruzeirense, não teria visto o Brasil aos pés do Galo. O Brasil virou atleticano e viu o que é ser torcedor do Clube Atlético. Sentiu na pele o que é ser forte e vingador.

- Se eu fosse cruzeirense, não teria visto Ronaldinho Gaúcho, o melhor do mundo por duas vezes, dar shows e mais shows em campo com o manto (sagrado) preto e branco. A começar por uma simples água e o considerado mito Rogério Ceni. E depois várias assistências, cobrança de pênalti, de escanteios, de faltas que culminaram em gols da saga em busca do título.

- Se eu fosse cruzeirense, não teria visto o meu time ser chamado de cavalo paraguaio e depois mostrar às Américas quem é era o melhor clube, a melhor equipe, os campeões. Eu não teria dado um tapa na cara da sociedade e da imprensa bairrista.

- Se eu fosse cruzeirense, eu não teria visto o meu time ter a melhor campanha da Copa. E a melhor campanha nos levou a decidir partidas importantes em casa.

- Se eu fosse cruzeirense, eu não teria visto um garoto marcar um gol aos 46 minutos do segundo tempo que deu ao Galo um empate importantíssimo, no México, após 20 horas de viagem e jogar em gramado sintético. Ah, o garoto, um simples jogador, se jogou no chão e pôs-se a chorar... por que fizeste isso, Luanzito?

- Se eu fosse cruzeirense, eu não teria visto, talvez, uma das imagens mais marcantes e importantes do futebol brasileiro nos últimos anos. Eu não teria visto um pênalti aos quase 46 minutos do segundo tempo (45’54’’). E muito menos veria a cena que o atleticano vai se lembrar pro resto da vida. A defesa do goleiro Victor, de pés e mãos santos. Uma canhota que vale por quantas Libertadores, Copas do Brasil, Brasileiros, Recopas e Mineiros forem. Eu não teria visto um santo dentro do Clube Atlético.

- Se eu fosse cruzeirense, eu também não teria visto esta canhota tantas vezes na vida. Ela foi repetida na TV à exaustão nos dias seguintes. Isso reforça o marco desta defesa na história do futebol. E o quanto o país tornou-se atleticano.

- Se eu fosse cruzeirense, eu não teria visto o Galo tomar um gol no último lance da partida numa cobrança de falta em plena Argentina. ‘’No llores por mi, Mineiro’’, cantava Scocco.

- Se eu fosse cruzeirense, eu muito menos teria visto um time ser declarado derrotado sem antes ter o segundo jogo para dar a virada. Isto merece detalhes. Eu não teria visto o time fazer o gol aos três minutos do primeiro tempo por um menino de alegria nas pernas que o mundo rendeu-se à ele. Também não teria visto um apagão do time e um apagão no estádio. Mas eu estava ali, junto à 8 milhões, gritando “eu acredito”. E muito menos teria visto um cara que jogou no time azul entrar em campo e marcar em seguida aquele que seria o gol da disputa de pênaltis.

- Se eu fosse cruzeirense, não teria feito tantos testes cardíacos em tão pouco tempo. O primeiro, mais sério, eu diria, foi o da canhota de São Victor. Depois, essa disputa de pênaltis dramática com o tido melhor time da Argentina e talvez, ao lado do Galo, das Américas. Era outro Club Atlético: o Newell’s Old Boys. E nesta disputa dramática, mais uma defesa impecável, agora com as mãos, do santo atleticano.

Se fosse cruzeirense, estaria assim
- Se eu fosse cruzeirense, não teria visto o meu Galo ir à final da Libertadores pela primeira vez na história do clube. Eu não teria visto jogos de tanta emoção e tanta gente torcendo arduamente pelo Atlético das Minas Gerais. E conhecer um time com tanta bravura e tão amado por sua torcida.

- Se eu fosse cruzeirense, não teria visto o meu time perder de novo fora de casa por 2x0 e assim alimentar a mística frase “eu acredito” por minutos, horas e dias e ficar sem viver direito por semanas. Além de rezar todas as orações e pedir a todos os santos proteção ao santo atleticano e à todos os seus discípulos.

- Se eu fosse cruzeirense, não teria visto os colegas torcedores dormirem na fila a fim de garantir um mísero, precioso e honroso ingresso para ver o maior espetáculo da história do Atlético, até aqui. Eu não teria visto uma festa linda na cidade antes daquele jogo. Eu não teria visto quase 60 mil pessoas lotarem o Mineirão e entrarem para a história como a maior arrecadação de verba da história do futebol sulamericano.

- Se eu fosse cruzeirense, eu não teria visto um ex-jogador do time azul, com a sua cabeça abençoada, marcar aos 41 minutos do segundo tempo o gol que levaria, mais uma vez, aos pênaltis. Eu não teria visto tamanha emoção do torcedor, do fã de futebol Brasil afora.

- Se eu fosse cruzeirense, meu amigo, eu não teria visto aquela bola bater na trave e dar de vez o título de direito e merecimento ao Clube Atlético Mineiro, que não deixou de acreditar um minuto. Que lutou mais de 40 anos para conquistar esta taça. Que doou-se por seis meses em busca dela. Que jogou a partida mais importante da história do clube com todo o banco de sangue do Hemominas e mostrou quem é o Galo forte e vingador.

- Se eu fosse cruzeirense, eu não teria ficado tão feliz como naquele 25 de julho de 2013. Não teria comemorado por dias um título suado e bonito. Não teria visto tanta gente naquela praça 7 cantando o hino do clube com tanto orgulho e amor.

- Se eu fosse cruzeirense, não teria como lema de vida “eu acredito”. Não teria como lema “Yes, We CAM”. Não teria um santo no gol. Não teria as Américas aos meus pés. Eu não bateria no peito com tanto orgulho e não gritaria com tanto ardor aos quatro cantos do mundo: eu sou atleticana!





Flávya Pereira é atleticana desde que entende o que é futebol, jornalista e fã dos Beatles. E de aniversário – no último dia 04 de Agosto – ganhou de presente o título de CAMpeã da América.