Há exatos quatro meses, oito milhões de pessoas tiveram a fé testada
quando o árbitro Patrício Polic marcou pênalti aos 48 minutos do segundo tempo
para o Tijuana. Muitas pessoas secaram o goleiro, uma nação alvinegra secou o
batedor Reascos e quando o goleiro Victor fez a defesa com os pés, ninguém
consegue secar as lágrimas que sempre escorrem dos olhos do atleticano que não
cansa de rever o lance.
E então nós acreditamos que era possível.
Há exatos três meses, um bom número dos oito milhões de pessoas
cornetavam o presidente alvinegro e a diretoria atleticana que não contratou
ninguém para o jogo contra o Newell’s Old Boys, quando jogaríamos sem a nossa
zaga e um dos volantes do time titular. Alguma parcela da torcida alvinegra
comemorava o título brasileiro na Copa das Confederações, porém todos
aguardavam a próxima fase da competição que era o sonho de todo atleticano.
E então só nos restava acreditar.
Há exatos dois meses, oito milhões de pessoas no Brasil ainda não
conseguiam dormir direito pela conquista da sonhada, esperada e sofrida
Libertadores. Enfim, ganhamos o título que estava engasgado na garganta e a América inteira era alvinegra. Casamentos foram salvos, filhos foram feitos,
empregos foram gerados e cruzeirenses eram mais difíceis de encontrar do que
Coca-Cola no deserto.
E isto porque nós acreditamos.
Há exato um mês, sofríamos no Campeonato Brasileiro. Time e torcida de
ressaca pelo título não se preocupavam muito com a competição. Perdemos jogos
para times que perderiam até pro América, mas nada parecia importar. Algumas
pessoas, com Alzheimer talvez, passaram a criticar o time e perseguir alguns
jogadores. Outros jogadores, também com probabilidade de perda de memória,
pareciam que esqueceram como se jogava futebol e o stress tomava conta de muita
gente. Quem parecia não se importar eram os donos de agências de viagem que
começaram a vender os pacotes para a invasão em Marrocos.
Muita gente acreditava, mas muita gente parecia deixar de acreditar.
Hoje, melhoramos no Campeonato Brasileiro dedicado aos hipertensos que
não precisam se preocupar com a quantidade de sal que o torneio carrega. O time
conseguiu boas vitórias e a torcida se revelou mais exigente do que se
imaginava. O título fez essas oito milhões de pessoas terem a certeza de que poderíamos
disputar qualquer competição, mesmo com 50 pontos atrás do primeiro colocado e
um oitavo lugar é motivo pra deixar todo mundo indignado, pois todos conhecem o
potencial do time. Mas aí veio a contusão do Ronaldinho e parece que um tufão
passa pela cabeça de cada torcedor atleticano que buscou o terço na gaveta e voltou a acender velas para a recuperação do mito.
Mas não podemos deixar de acreditar.
Não sei o que acontecerá daqui um mês ou dois. Quem dirá três. O
atleticano consegue xingar o time, entre os seus pares, pois sabe que podemos mais,
mas ri da situação atual do mesmo time para os torcedores do time azul que vai
bem no Brasileirão-sem-sal para não deixar a zuera terminar.
E agora a situação, por incrível que pareça, entra no estilo que a torcida
do Galo está acostumada: quanto mais sofrido, melhor. Só esse ano, aprendemos
árabe para acompanhar a negociação do Tardelli, falamos castelhano para nos
ambientar nos países sulamericanos que visitamos, torcemos contra o vento e a
favor da trave no dia 25/07 e agora estudamos a geo-política marroquina e seus
usos e costumes para dezembro, mas teremos que incrementar a Medicina em nosso
tempo disponível para acompanhar o tratamento do mito Ronaldinho.
Com isso, tudo só melhora. Quanto mais desafios, quanto mais desacreditam no nosso elenco, o brio deles só aumentam e as coisas só melhoram. Afinal, depois desse tempo todo e de tudo isso que passamos e de tudo
que aprendemos, vamos deixar de acreditar?