Quando o juiz marcou o pênalti
pro Tijuana, entre o apito e a batida, um filme passou pela minha cabeça.
Muitas pessoas olharam
pro chão, outras fecharam os olhos. Eu olhei pro céu.
Olhei pro céu e me
perguntei porque aquilo estava acontecendo com a gente. E o pior, naquele
momento.
E o roteiro desse filme
era nossa história.
Quantas vezes nós
deixamos de classificar ou de ganhar um título por um detalhe?
Quantas vezes vimos títulos
escapar entre os dedos por razões que ninguém consegue explicar?
E não era só isso. Era a
campanha do 1º turno, a vitória maiúscula contra o São Paulo. As injustiças do
Campeonato Brasileiro do ano passado.
Não era justo. Não
daquela forma. Não aos 48 minutos do segundo tempo.
Lembrei que o Victor não
havia pegado nenhum pênalti na sua carreira no Galo e que o nosso goleiro
sempre caia pro lado direito. Não saia da minha cabeça as várias vezes em que
ouvia que o Victor não era goleiro de “pegar pênalti”.
Voltei os olhos pro
campo e vi o atacante mexicano correndo pra bater o pênalti. O silêncio que
reinava no estádio era ensurdecedor.
Quando o Victor
defendeu, não tive reação a não ser cair de joelhos e chorar.
Pela primeira vez na
minha vida eu não consegui falar ou gritar. Minha única reação era chorar.
De joelhos, chorava de
soluçar e as lembranças que guardo desse momento são apenas imagens turvas,
distorcidas pelas lágrimas que resolveram sair todas de uma vez.
Minhas pernas ficaram
bambas, minhas mãos tremiam. Estava arrepiado da unha do dedão ao último fio de
cabelo. Era a certeza de que o meu corpo inteiro vibrava e queria participar
daquele momento e parece que eu saí do estádio, pois não ouvia nada, não via
nada e só chorava.
E então, o juiz apitou o
fim do jogo e eu “voltei pro estádio”, reparando em minha volta. Todos, sem
exceção, choravam.
E a primeira imagem nítida que vi foi a frase "Aqui é Galo" no cachecol de um amigo próximo.
Realmente. Nada era mais Galo do que aquele momento. Nada representava mais o que significava torcer pro Galo naquele exato momento.
Só o Galo faz o ateu agradecer a Deus por tudo que viveu. Só o Galo faz os idosos pularem como crianças, quase dando cambalhotas. Só o Galo faz as crianças chorarem de tanta emoção ao ponto de ficar enrrugadas como os idosos. Só o Galo faz o rico abraçar o pobre.
Vi idosos, crianças,
jovens, adultos, mulheres e homens chorando, olhando ao redor, olhando pro céu,
olhando para si mesmos e não acreditando no presente que Deus havia dado a
todos nós.
Agora, enquanto
escrevo este texto, é um novo filme que passa pela minha cabeça.
E Graças a Deus e ao
Victor o final é feliz.
Foto do Daniel Teobaldo (soulgalo.com.br) que retrata bem. Eu e os amigos Anne Menezes e Marconi
PS: Depois que publiquei o texto, a Anne Menezes, essa mesmo da foto acima e especialista no que se refere ao Victor me lembrou que ele já havia pegado um penalti jogando pelo Galo. No jogo Náutico x Galo, no Brasileiro do ano passado, o Victor já havia defendido um penâlti. Reveja aqui